Ayahuasca

O vinho das almas.

Apesar de ser conhecida como chá, a Ayahuasca é uma bebida obtida pelo cozimento de duas plantas amazônicas: a Chacrona (Psychotria viridis), arbusto da família do café; e o Jagube ou Mariri (Banisteropsis caapi) que é um cipó. Essas plantas representam, respectivamente, a energia feminina e masculina.

Foi inicialmente utilizada pelos indígenas das regiões do Peru, Equador, Colômbia, Bolívia e Brasil, sendo conhecida como vinho das almas, ou cipó dos espíritos (ayahuasca vem do idioma Quéchua e significa: aya= morto/espírito; huasca= corda). Foi difundida no Brasil através de religiões que mesclaram o uso da bebida com uma doutrina cristã, são os casos do Santo Daime, União do Vegetal e Barquinha, além de centros xamânicos que também utilizam a bebida em seus rituais.

 

 

Princípio ativo:

A Chacrona possui uma substância conhecida como DMT (dimetiltriptamina), que é muito parecida com o neurotransmissor Serotonina, ligando-se aos mesmos receptores. Sua ação chega a partes do cérebro responsável pelo inconsciente humano, acessando memórias e tornando-as conscientes. A utilização desta planta visa exatamente a expansão da consciência, com visões e compreensões, além da sensação de bem-estar (também relacionada à Serotonina). As visões são conhecidas como mirações e se caracterizam por imagens coloridas, vistas com os olhos fechados. Durante todo processo a pessoa permanece consciente.

Porém a DMT é quebrada pela enzima MAO (Monoaminoxidase), presente no trato digestivo e não seria absorvida em concentrações suficientes se não fosse pela associação com o Jagube. Este, por sua vez, possui alcaloides Harmala que inibem a MAO, permitindo absorção da DMT.

Apesar da enzima MAO ser inibida reversivelmente, as concentrações de Serotonina continuam sendo reguladas pelo Sistema de Recaptação de Serotonina. É importante esclarecer que o efeito nocivo mais grave relacionado à Ayahuasca, conhecido como Síndrome Serotoninérgica, só ocorre quando a utilização da bebida é feita por uma pessoa em tratamento com drogas para depressão (como exemplo a Fluoxetina), e que inibem a Recaptação da Serotonina. Alguns outros efeitos podem ser observados, como vômitos e diarreia, considerados como limpeza no contexto do ritual.

 

 

Quando a Ayahuasca começou a ser difundida pelo país, houve um estudo e acompanhamento das pessoas que utilizavam a bebida por longos períodos, encontrando pessoas saudáveis e lúcidas, mesmo com idade avançada. Outros estudos foram feitos e ainda estão em andamento, verificando a aplicabilidade da Ayahuasca para tratamento de depressão, dependência química e doenças degenerativas. Não foi encontrada nenhuma relação entre o uso da bebida e dependência química.

 

 

De modo geral, as vivências proporcionam uma mudança positiva nos participantes, e são indescritíveis em palavras. A percepção do cotidiano recebe novo significado, reconhecendo valores que antes eram ignorados. Mas a experiência pode ir além do despertar da consciência para vida, expandindo a percepção do universo espiritual.

Importante lembrar sempre sobre a seriedade do local e procedência da bebida. Quando for comungar pela primeira vez, é interessante ter referências sobre o local e os trabalhos realizados. Cada grupo trabalha com contextos diferentes, que vão de relaxamento com música, a bailado com hinário. Cada pessoa deve buscar o formato que mais se sinta a vontade e se identifique, para que possa ter uma vivência tranquila e com todo amparo necessário.

Algumas considerações:

Ayahuasca é apenas uma das ferramentas. Podemos alcançar e transcender o estágio proporcionado pela bebida sem utiliza-la. Trata-se de um facilitador, que nos conecta com nossa essência. Por isso é importante manter o foco, a intensão do uso ritualístico, com o propósito de tornar-se consciente. E, para este fim, a Ayahuasca é uma ferramenta incrível (!!!), que nos permite relembrar quem somos e quão grandioso é o Universo. E depois deste vislumbre, cabe a nós continuar buscando essa consciência de forma plena, tanto nos rituais, quanto (e principalmente) na vida.

Por isso, não basta tomar conhecimento das leis Universais, intelectualiza-las e nunca utiliza-las de forma prática (até porque temos esse conteúdo em muitos e ótimos livros). A Ayahuasca nos convida para experienciar essas leis, senti-las e pratica-las conscientemente. Após o ritual, o grande desafio e dever são agir de forma coerente, esforçando-se para manter a consciência. Isso não significa tornar-se perfeito de um dia para o outro, mas conseguir perceber, aos poucos, como são nossas atitudes, nossas palavras, como estamos agindo com o outro, quais nossos apegos (e se já queremos desapegar), quais as nossas mágoas (e se já queremos perdoar), quais os nossos medos (e se já temos capacidade de enfrentar) e o quanto estamos contribuindo de forma ativa para nosso desenvolvimento (des-envolver) e, consequentemente, para o desenvolvimento de toda humanidade.

Entendamos, então, a beleza deste recurso, que nos desperta. E que possamos assumir a responsabilidade de manter-nos despertos depois. Por fim, a frase mais manjada: Ayahuasca está para todos, mas nem todos estão para Ayahuasca. Respeite seu momento, seu processo e confie. As oportunidades irão aparecer quando você estiver pronto.