A expressão de quem sou

Numa dessas conversas que começam do nada e terminam com lágrimas nos olhos, pude refletir e compartilhar sobre máscaras.

A primeira imagem construída pela criança em muito reflete a imagem que os pais têm dela. O bebê nada sabe de si mas, conforme cresce, constrói uma percepção do mundo e de si mesmo, com referência de seus pais. Para desconstruir essa imagem na adolescência, é preciso desmoronar, deixar de se identificar com o brilho incisivo nos olhos daqueles que desde sempre estiveram observando e começar a construção de uma nova imagem.

Mas como podemos enxergar a nós mesmos? O olho só consegue ver o próprio olho através do espelho. E mais uma vez construímos nossa identidade refletida nas impressões dos outros, desta vez amigos e demais pessoas do convívio social. Com a vida adulta, a imagem vai se consolidando e apenas em casos de grande crise desmoronamos o suficiente para uma reconstrução. De modo geral, vamos nos identificando com os olhares dos outros e aceitando-os como “eu”.

Como diria Álvaro de Campos: “Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara.”

E a cada reflexo que vislumbramos, os espelhos distorcidos de nós mesmo vão se mostrando buscadores como nós. Com o tempo, entendemos que somos o espelho dos outros também. E quando eu reflito a imagem de alguém, acabo fazendo-o com meus acúmulos, minhas bagagens. E devo dizer que nem sempre reflito o melhor daquela pessoa (ou o melhor de mim).

E então, se consciente disso, usar um filtro para o reflexo de mim, deixando de lado o excesso de críticas e cobranças, os eternos julgamentos e medos, só então poderei refletir algo melhor para quem me usar como espelho, uma imagem de bondade e respeito pela individualidade. E deste ponto, as conversas que terei com as lágrimas nos olhos, que sejam de compaixão e empatia.